Diante de problemas complexos – com múltiplas variáveis que interagem entre si e exigem que a Administração Pública (AP) sobrepuja um planejamento tradicional -, urge nas organizações a necessidade de gerar e gerir respostas inovadoras. Contudo, visto que o panorama da estrutura administrativa brasileira é comumente caracterizado por certa descoordenação setorial, excesso de burocracia e recursos limitados, há a dificuldade de formular ações adequadas às necessidades da população e resolver os chamados problemas complexos.

Isso significa que uma administração pouco flexível e que não abre espaço para experimentação e erro tende a desestimular os servidores públicos a incorporar novas formas de pensar e atuar. Por isso, a necessidade de um espaço que fomente a inovação e a articulação vem sendo atendida a partir da criação dos laboratórios de inovação. Assim, para entender de que modo o setor público é impactado por esses laboratórios convém, então, entender conceitualmente o que eles significam.

De acordo com Acevedo e Dassen (2016), “os laboratórios de inovação do governo são lugares dinâmicos que estimulam a criatividade para o design de soluções para políticas públicas. Esses laboratórios geralmente possuem equipes multissetoriais e abordam as questões de forma colaborativa”. Desse modo, implantar essa estrutura significa que o órgão público está adotando a estratégia de criar uma unidade específica para a inovação, com profissionais, tempo e recursos dedicados a isso, de modo a desenvolver respostas com potencial de gerar impacto na gestão, políticas e serviços públicos.

Em entrevista ao podcast Inovação no Setor Público, Hironobu Sano, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que o potencial de impacto na área pública se dá justamente porque os laboratórios buscam desenvolver a inovação através de diferentes formas. São essas: a identificação de problemas, permissividade ao erro, adoção de metodologias ágeis (como design thinking e design sprint), participação intersetorial, da sociedade civil e iniciativa privada, além de uma abordagem baseada na criatividade, experimentação e cocriação.

Posto isso, o impacto no primeiro setor logra-se quando o olhar para a inovação como resposta aos problemas complexos vai além de um conjunto de boas ideias, incorporando ciclos (como o uso de novas tecnologias), estratégias e planejamento. Ademais, os resultados efetivamente alcançados dizem respeito a melhoria dos processos internos da AP, capacitação e engajamento das equipes de servidores e promoção de uma mudança de cultura organizacional. Portanto, para além da gestão interna, os laboratórios de inovação têm capacidade de gerar valor público ao debruçar-se sobre as políticas e serviços públicos, o que significa a produção de benefício líquido para o cidadão.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEVEDO, S.; DASSEN, N. (2016). Innovation for better management: the contribution of public innovation labs. USA: IADB. (IDB Technical Note; 1101). Disponível em: https://publications.iadb.org/publications/english/document/Innovation-for-Better-Management-The-Contribution-of-Public-Innovation-Labs.pdf

(011).lab. (2020). Inovação pública para Transformar o Governo com Pessoas. São Paulo: ENAP. Disponível em: https://assets.website-files.com/5e18ca34b827fa4e18593184/5ff4c80e5a4bc1f60ac70829_011lab_livro_PT_low.pdf

Podcast Inovação no Setor Público. Laboratórios de inovação no setor público. Disponível em: https://anchor.fm/inovacao-no-setor-publico/episodes/02—Laboratrios-de-inovao-no-setor-pblico—com-Hironobu-Sano-eslqce/a-a4unkqe

SANO, H. (2020). Laboratórios de Inovação no Setor Público: Mapeamento e Diagnóstico de Experiências Nacionais . Brasília : ENAP. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/5112/1/69_Laboratorios_inovacao_governo_completo_final_23062020.pdf

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